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A Reverência do Rock Psicadélico em Valada, por Nick Allport

NICK ALLPORT – PROMOTOR REVERENCE VALADA


Valada encontra-se a 60 km de Lisboa, 8 do Cartaxo. O Reverence encerrou a época de festivais de verão em 2014, com 17 horas de música diária e a cativar a atenção do público português. Nick Allport falou com a Aporfest sobre o seu percurso e a primeira edição do festival que se repete em 2015.



Tiago Fortuna – Aporfest (A): O que pode trazer o Reverence Valada ao Cartaxo que as Cartaxo Sessions não trazem?


Nick Allport (NA): As Cartaxo Sessions ajudaram a concretizar o festival, mas o Reverence consegue chegar mais longe e trazer mais pessoas de todo o Mundo. É uma oportunidade para nós de termos um grande conjunto de grandes bandas, todas no mesmo lugar à mesma hora.


(A): O festival acontece numa parceria entre as Cartaxo Sessions e a Câmara Municipal do Cartaxo. De que forma foi a Câmara Municipal do Cartaxo fundamental para o Reverence?


(NA):A Câmara permitiu-nos fazer o festival, o que é fundamental para um evento como este. Providenciaram-nos suporte essencial em infra estruturas e ajudaram-nos em questões como as permissões para usar o campismo, limpar as várias áreas do recinto e a reunir todas as condições e meios para garantir que o festival decorria tranquilamente (como os Bombeiros voluntários e a GNR). Sem eles o festival não teria acontecido.


(A): Conhecendo a realidade do Reino Unido, sabe dizer-nos que tipo de apoio é dado pelos municípios aos festivais? É diferente da realidade portuguesa?


(NA): No Reino Unido só organizei pequenos concertos, nunca um festival, por isso não estou propriamente qualificado para responder a esta questão. Acho que de forma geral é mais fácil organizar um festival em Portugal, o país parece-me muito mais aberto a este tipo de eventos.


(A): Creio que foi a muitos festivais no Reino Unido. E em Portugal? Tem experiência na nossa oferta de festivais de música?


(NA): Estive duas vezes no Milhões de Festa e uma no Alive, não tenho muita experiência. Adoro o Milhões, é tão descontraído e o público é fantástico. Gosto mesmo desse festival ainda que seja difícil conseguir estar presente este ano uma vez que estarei, infelizmente, em Londres a trabalhar. O Alive é um pouco agitado, estive lá apenas para ver os Libertines que foram excelentes.


(A): Quais foram as maiores diferenças em que reparou entre os dois países? Em que aspetos vê potencial nos festivais de música portugueses?


(NA): Os festivais no Reino Unido são um pouco mais caóticos e organizados de modo mais rígido. Parece existir sempre a possibilidade de distúrbios e existem sempre pessoas embriagadas, que perdem os sentidos, em cima de pilhas de copos de cerveja. Nunca senti os festivais de música no Reino Unido como uma experiência agradável, e estive mesmo em muitos. Em Portugal, por outro lado, tudo me parece muito mais descontraído e fluído. Talvez seja porque vocês vendem cerveja naqueles copos pequenos! Nunca poderíamos ter um festival com uma piscina como no Milhões de Festa, porque não ia resultar.


(A): O Reverence teve um cartaz muito curioso, as parcerias estabelecidas com a Lovers & Lollipops, Sabotage e a AC30 foram um sucesso. Como é que esta ideia ganhou vida? É um modelo para continuar?


(NA): Acreditei que era importante colaborar com outras pessoas, especialmente num projeto tão grande quanto este. Pareceu-me que não acontece muito em Portugal, talvez por isso me perguntam tantas vezes sobre isto. Foi óbvio, para mim, ir ter com a equipa da Lovers & Lollipops porque temos gostos semelhantes e partilhamos a mesma visão, foi uma colaboração fácil. A Sabotage surgiu quando começámos a planear o festival, não os conhecia antes, mas percebi que eles trabalhavam como distribuidores independentes desde os anos 80 e até trabalhámos com as mesmas bandas, foi também uma boa parceria. A AC30 é a nossa conexão com Londres e não foi muito óbvio nesta edição, mas nos próximos meses vai começar a ganhar forma enquanto trabalhamos em alguns concertos do Reverence em Londres.


(A): O Reverence teve uma projeção positiva nos media com a primeira edição. Conseguiram não só fortes parceiros media como muitos conteúdos. Como descreve estes resultados? Pode partilhar alguns detalhes desta estratégia?


(NA): Tivemos connosco um Relações Públicas muito bom, o que foi muito importante porque conseguiu levar o evento até às pessoas certas. Não estava à espera da exposição mediática que conseguimos, mas para ser honesto era fácil para algumas publicações escrever sobre o festival por diversas razões. Obviamente nunca tinha havido um festival assim em Portugal e nesse sentido é algo único. O facto de decorrer no Ribatejo e não numa cidade ou no litoral, fez com que se tornasse mais interessante e tinham também o ângulo do “Inglês que se mudou para o meio do nada em Portugal e organiza um festival” - alguns viram esta como uma abordagem interessante para escrever. Era importante para nós conseguirmos posicionar-nos nesta primeira edição, chegar a muita gente, mesmo que não venham ao festival. Aqueles que vieram gostaram muito e os que não vieram provavelmente vão vir na próxima edição.


(A): O modelo do Reverence proporciona concertos durante 17 horas nos 3 dias. As reportagens falavam num público cansado. É algo que será ajustado na segunda edição?


(NA): Existiram algumas pessoas que se queixaram de cansaço, mas o Boom Festival tem música durante 23 horas num dia, por isso não será algo a que vamos tomar atenção! Vamos, no entanto, fazer alguns ajustes por ter constituído um problema com algumas bandas, especialmente no sábado quando as bandas se começaram a sobrepôr.


(A): Podia partilhar connosco três aspetos que estejam a considerar melhorar para a próxima edição?


(NA): Existem algumas infra estruturas que precisam de ser melhoradas. Já temos o compromisso da Câmara em colocar iluminação na zona de campismo, que foi a nossa maior queixa. Vão também melhorar a iluminação à volta do recinto e até junto ao rio. Algumas das bandas que chegaram e tocaram já de noite não se aperceberam que existia ali um rio! A Câmara vai também ter um shuttle entre o Cartaxo e o recinto do festival, assim como ajudar-nos com estacionamento para carros e caravanas. Para além disso: teremos menos bandas, concertos mais longos e intervalos entre concertos mais longos, que foram as questões que mais incomodaram o público na primeira edição. Iremos também acabar os concertos um pouco mais cedo, provavelmente por volta das 4:00.


(A): Quais foram algumas das maiores dificuldades com que lidaram na primeira edição?


(NA): Acho que foram alguns dos custos inesperados. O combustível para os geradores, a alimentação para toda a equipa (bombeiros, GNR, etc...). Vamos gerir melhor tudo isso este ano. Para além disso, tudo correu de modo tranquilo. A produção foi fantástica, todas as bandas gostaram e divertiram-se. Os The Black Angels disseram a um elemento da equipa de catering que era o sítio mais bonito em que tinham tocado.


(A): O que pretende concretizar com o Reverence em cinco anos?


(NA): Existe um festival em Chicago, chamado Riot Fest, nunca lá estive mas sempre adorei o cartaz deles. É muito underground, conseguem contratar bandas enormes que não são nada mainstream, e é também muito eclético. Essa é a ideia a que aspiro. Acho que o cartaz do Reverence 2015 não vai ser completamente aquilo que o público está à espera.


(A): Como pretende que o festival seja visto perante a oferta nacional de festivais de música?


(NA): Como algo diferente.


(A): Os festivais de música podem beneficiar da criação de uma associação?

(NA): Para ser sincero, não sou grande fã de associações na indústria. Estou envolvido na indústria da música underground há 25 anos e nunca vi benefícios. Se conseguir ajudar os diferentes promotores a estabelecerem um diálogo para trabalharem juntos a trazer mais bandas a Portugal então pode existir aí algo, mas não deposito muita esperança.

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