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O conforto no centro da experiência do festivaleiro, por Frederico Câmara (Get a Fest!)


Vivemos no apogeu do turismo em Portugal, os festivais não são exceção e o número de visitantes cresce todos os anos. Os festivais são uma oportunidade e a Get a Fest agarrou-a. Em apenas um ano vimos este projeto nos maiores festivais portugueses e em 2015 vão estar em mais, não só em Portugal como na Europa. Ouvimos falar na oportunidade que é o leste europeu e a Get a Fest já está a aproveitá-la com parcerias estabelecidas, sua visão estratégica atravessa fronteiras, e em 2014 60% dos seus clientes foram estrangeiros. No ano passado estiveram em 7 festivais e em 2015 duplicam a sua oferta para 15.


Aporfest – Tiago Fortuna (A): Os festivais são uma oportunidade de negócio?

Frederico Câmara (FC): Sim, claro que sim. Existem imensas oportunidades de negócio num festival pelo facto de milhares de pessoas estarem reunidas no mesmo ponto, temos um potencial de clientes que a dificuldade passa a ser encontrar aquilo que eles necessitam e a organização do festival não lhes dá. No nosso caso eram as soluções de mais conforto na estadia e transformá-la numa experiência turística. Essa foi a nossa oportunidade. Existem outras: para a restauração, para as atividades locais (como os tuk tuk), e se fossemos nós outro país as oportunidades aumentariam exponencialmente. Por exemplo, no Brasil, venderias águas - é verão e as pessoas têm sede.


(A): Mas vemos isso em Portugal, pessoas com geleiras nas filas dos festivais…

(FC): Isso acontece nas chamadas romarias, não nos festivais de música… No conceito de “festival romaria” (São João, Santo António) reparas que há um conjunto de oportunidades de negócio que aparecem e tens pessoas a vender cervejas na rua, à entrada, à saída… Claro que num festival de música estamos a lidar com marcas, entidades, patrocínios e não é fácil aproveitar essas oportunidades de uma forma menos estruturada, menos legal, tudo tem estar legal com a organização. Nós sentimos isso, não podemos organizar pacotes de viagem para um festival sem primeiro sermos parceiros oficiais. As pessoas que ali estão podem não vir apenas pelos festivais, mas os promotores têm uma responsabilidade acrescida pelas pessoas e também o benefício e mérito de as ter trazido. Existem imensas oportunidades, mas às vezes é preciso entrar em contacto com o organizador do festival para “oficializar”, empregar valor de uma forma que seja também de acordo com aquilo que o festival pretende. Mas existem sempre lacunas, um festival não consegue pensar em tudo e gerir a complexidade de tudo o que se passa à sua volta. Fora do festival pode fazer-se muita coisa. A estadia, os shuttles – no Primavera Sound o nosso shuttle teve um grande sucesso – existem festivais com e sem shuttle, os que não têm é porque provavelmente a organização não teve capacidade de se organizar nesse sentido. Se alguém fizer isso por eles, mantendo a qualidade que eles pretendem, resolve-se. É uma questão de identificar o que está a faltar.


(A): Como reagiu o mercado à Get a Fest?

(FC): Foi um primeiro ano. Todas as conclusões que tirámos ainda estão a ser comprovadas. A recetividade dos nossos clientes pareceu-nos ótima. Ficaram satisfeitos com o nosso serviço e já temos pedidos para este ano. Os organizadores dos festivais também, todos ficaram satisfeitos, prova disso é que já renovámos todas as parcerias e já estamos à procura de novos festivais. Serviços como o de shuttle correram muito bem. Depois fizemos muitas atividades locais e diversas onde os resultados foram mistos. Alguns correram bem outros nem tanto. É a área em que estamos a trabalhar mais este ano, para tentar descobrir em cada festival a atividade turística mais adequada para o seu público. Acredito que demore mais tempo a conseguir integrar essas atividades. O ano passado foi muito experimental, fizemos serviços muito diferenciados: no Porto uma prova de vinhos, em Gaia aulas de Surf, no Super Bock uma tour por Lisboa, no Sudoeste um churrasco… Em todos eles experimentámos. Criou envolvência e foi diferenciador para alguns clientes e noutros casos não teve mais-valia. Existem festivais em que o cliente está satisfeito com tudo o que o festival lhe oferece. No Primavera Sound senti isso, assim como no Sudoeste. Noutros, como Paredes de Coura, as pessoas gostaram muito de fazer uma caminhada. Este ano vamos voltar a criar experiências, já temos uma muito engraçada que vai ser o aluguer de autocaravanas… Esta é a parte mais difícil, temos de experimentar e comprovar as experiências.


(A): À pouco falava na importância de parcerias estabelecidas com as organizações. Pode desenvolver um pouco essa ideia?

(FC): Entre uma festividade local, como um São João, ou um festival que tem um nome e marca associado, uma empresa proprietária, o uso da marca do festival tem regras. Para prestar um serviço ao NOS Primavera Sound é precisa uma autorização para o fazer, e tem de se cumprir as normas estabelecidas pelo festival. Essa parceria é fundamental, embora a nível legal seja discutível essa vinculação. Legalmente uma agência de viagens pode vender serviços em festivais, do uso da marca é que não se pode usurpar a fim de receitas. Ainda assim, temos o princípio de só trabalharmos com festivais com que temos parceria oficial, queremos estar no mercado de uma forma em que colaboramos. Para isso precisamos de saber as necessidades dos festivais, perceber o que lhes é útil. O promotor é importante para ajudar no início porque conhece o que o público precisa, quais são as queixas mais comuns. Nesse sentido trabalhamos próximos dos festivais para conseguirmos ter um serviço adequado. Este ano teremos uma proximidade forte com o NEOPOP e o Milhões de Festa em que conseguimos potenciar turisticamente o festival. Também com a nossa experiência percebemos o que resulta ou não em alojamento e conseguirmos potenciar o festival.

Não quero fugir à pergunta mas é importante referir que cada vez mais os festivais estão identificados com marcas, com a região em que estão. Estão identificados com um tipo de música, uma marca e uma região. Essa combinação faz com que exista um conjunto de fatores decisivos perante o público, talvez aquilo que atrai mais o público a ir pela primeira vez a um festival é o cartaz – “Vou a Paredes de Coura porque quero ver Franz Ferdinand”. Mas numa segunda vez voltaria pela experiência que tive no festival, com o cartaz, mas não só. Julgo que a Get a Fest ajuda a que a organização não tenha de se preocupar tanto com a experiência. Tentamos garantir que fora do recinto do festival o festivaleiro tenha uma experiência. Lembro-me da primeira vez que fui ao Sudoeste e acho que gosto de lá regressar pela experiência que tive: ficar numa casa com vista para o mar, um Pátio fenomenal, uma semana passada em grupo com um espirito de Alentejo muito forte. A experiência que ainda hoje me lembra do Sudoeste é, não só os concertos que vi como toda a experiência que tive naquela semana. Acho que isso potencia a fidelização. Os nossos clientes no Primavera Sound dizem isso mesmo, não sabem o cartaz do festival mas gostaram da experiência de estar no festival connosco, sabem que será uma semana bem passada.


(A): Como está a ser o processo de internacionalização?

(FC): Começámos um relacionamento com o EXIT Festival, da Sérvia, no ano passado no Talkfest, onde surgiram muitos contactos e foram abertas muitas portas. Foi a primeira porta internacional que abrimos. Este ano, também através do Talkfest, vamos abrir o Sziget. Temos aqui um estágio internacional com uma pessoa que veio da Croácia, mesmo para abrir portas, temos já 5 festivais na Croácia. Tem corrido bastante bem, muito porque encontrámos um parceiro similar à Get a Fest na Croácia, preocupamo-nos com a venda e outgoing nacional, não tenho de me preocupar com a operação lá porque tenho um parceiro fidedigno que a faz.


(A): Em que outros países querem entrar?

(FC): Temos aqui um desafio e estamos atentos ao crescimento do mercado. Ou o mercado nacional se mostra claramente suficiente para explorar (ainda temos muito por explorar em Portugal) ou teremos de tornar o projeto muito internacional. Pode não ser seguro apostar apenas em Portugal, para já os festivais estão a crescer mas já se ouve muito dizer que daqui a 4/5 anos vamos sofrer na pele, porque estão a aparecer muitos festivais no Leste, porque os apoios dados vão tornar-se inviáveis, estamos numa incerteza. A verdade é que existe um aumento exponencial de turismo nos nossos festivais, vamos tentar verificar se isso se comprova, e se sim, queremos manter-nos em Portugal. Se assim for, o nosso foco terá de ser acima de tudo na operação, temos de ter a capacidade de receber estrangeiros e o turismo nacional em cada um dos festivais em que operamos. Com 14/15 festivais em 2015, 10/11 em Portugal, se isso nos satisfizer temos uma preferência por fazer aquilo que temos feito até agora – o incoming de pessoas para festivais nacionais e potenciar cada uma das regiões em que o festival está sediado. Caso a médio prazo esta solução não funcione e o mercado não seja suficientemente maduro e sólido para conseguirmos sobreviver, aí a estratégia terá de passar por novos mercados. Apostamos sempre em mercados menos explorados, e existem sempre novos players. Queremos fazer um pouco como os grandes festivais têm feito em Portugal para se estabelecer: ser aquele que descobre antes o potencial para próximos grandes festivais e identificar as regiões que podem ter mais potencial para fazer novos festivais. Este ano vamos apostar forte num festival na Madeira, acreditamos que a Madeira tem potencial para um festival. Queremos descobrir as regiões com maior potencial turístico e chegar lá antes da concorrência internacional para dominarmos os mercados que ainda não são tão conhecidos ou explorados.


(A):Existe um pacote preferido do público?

(FC): Depende de festival para festival. O público nacional prefere o low cost. Temos mais do que segmentos de nacionalidade, segmentos de tipo de festivaleiro: o que vem em grupo, em casal e individualmente. São estas as grandes distinções. Quem vem individualmente prefere um hostel, quem vem em casal prefere um hotel e quem vem em grupo prefere também um hostel. Isto nos festivais urbanos. Nos festivais fora da cidade, quem vem em grupo prefere casas, quem vem em casal prefere apartamento ou hotel. Claro que entre um hotel de 3 ou 5 estrelas acho que o nacional prefere o de 3 estrelas e o internacional prefere o de 5, porque o preço do de 5 é praticamente igual ao de 3 para eles.


(A): Se tivesses que escolher um festival e um pacote da Get a Fest qual seria?

(FC): Isso é sempre complicado de escolher, especialmente a trabalhar com tantas organizações… Ainda assim este ano houve um que realmente apreciei bastante que foi a nossa mansão em Paredes de Coura. Também adequado à minha idade e ao que quero retirar de um festival. Em todos os festivais tivemos pacotes que se adequaram muito bem… Por exemplo no Porto, no Primavera, tivemos quase um hostel só para nós e o espirito que se vivia era muito positivo. No sudoeste também o hostel funcionou muito bem, mas Paredes de Coura fizemos algo que não é comum. Quem vai para Paredes de Coura e aluga uma mansão é um grupo de amigos. O que nós fizemos foi alugar a casa e vendê-la ao quarto, tivemos 5 quartos e 5 casais diferentes. Se o casal fosse sozinho ao festival, teria de ficar numa pensão ou num apartamento T0, sem outra solução por não existirem ali hotéis… E demos a possibilidade de ficar numa mansão com piscina onde estavam lá outras pessoas e fizeram amigos. O tempo estava ótimo, sem chuva, e no fim da época de festivais poder relaxar durante o dia foi o que me soube melhor. Todos eles tiveram experiências distintas e engraçadas. O que se distinguiu a um nível pessoal para mim foi este. (A): Tens algum festival que gostasses muito de conseguir estabelecer parceria? (FC): Sim! O Glastonbury, pelos pedidos dos nossos clientes é um desses festivais, temos vários pedidos. Tem a dificuldade de se conseguir bilhetes, se tivéssemos uma parceria com eles seria claramente genial! A nível internacional fora da Europa, tanto o Coachella como o South by Southwest ou o Burning Man – venho da base tecnológica e o Google tem lá raízes - que é para mim o suprassumo deles todos.


(A): A Aporfest pode trazer benefícios para a indústria dos festivais de música em Portugal? (FC): Acho que pode unir o mercado, e acho que este mercado precisa de mais união e colaboração. Não me posso queixar, temos sido super bem recebidos e acarinhados por toda a indústria, temos tido essa sorte. Também a nossa personalidade - tanto na empresa como pessoalmente - nos leva a procurar estarmos bem com todos e, por isso, acredito que temos esse retorno. Mas sinto que existe pouca colaboração entre festivais e parceiros e julgo que a Aporfest poderá criar condições para se estabelecerem pontes na indústria. Acredito imenso no vosso projeto, cada um tem de saber aproveitar o que a Aporfest pode trazer de melhor. A nível de contactos internacionais pode abrir muitas portas, assim como reunir dados estatísticos e informação que é muito útil. Julgo que consegue criar pontes importantes entre os vários players.




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