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ENTREVISTA: A música em primeiro lugar, por Luís Clara Gomes (Moullinex)

Luís Clara Gomes, na pele de Moullinex, atua esta sexta-feira no palco Clubbing do festival Nos Alive. Lançou em Maio “Elsewhere”, o seu segundo LP, depois de no início do ano se ter apresentado ao vivo no Eurosonic. Falou com a APORFEST sobre a música no centro dos festivais, com a visão de quem para além de artista é um dos fundadores da editora DISCOTEXAS.


Com “Elsewhere” está a tocar em dois formatos: Live Band e DJ Set. De que forma são escolhidos para diferentes festivais os dois formatos?

Sempre que nos é possível, dou prioridade ao formato ao vivo. Porque é neste momento mais interessante para mim. Mas fazer DJ sets ainda me estimula, e é uma porta que não desejo fechar.



A receção do público é diferente entre os dois formatos?

Sim. A comunicação é muito diferente. Costumo achar que nos DJ sets me posso “esconder” atrás da música de terceiros. Nos concertos com a banda não há filtro nem barreira, é tudo muito mais pessoal, e, como tal, mais emocionalmente gratificante.



“Elsewhere” tem em si uma fusão de géneros que são obrigados a coexistir. Que papel têm hoje os festivais de música nesta coexistência da música?


Creio que assistimos a um momento global em que desapareceram as grandes “tribos urbanas” de outrora. Hoje em dia os géneros contaminam-se no público, nas ofertas culturais mas também nas bandas e projetos musicais. O resultado é uma maior diversidade de opções. Felizmente há festivais a fazer conviver géneros outrora “arqui-inimigos” como o metal e a música eletrónica, e felizmente os estigmas já caíram por terra.



A Discotexas já teve vários eventos, incluindo curadorias em festivais. Em que sinergias tem sentido investir e porquê nos dias de hoje?

A editora, mais do que uma entidade responsável pela edição discográfica, é um chapéu debaixo do qual se podem encontrar ideias comuns. Sejam musicais, filosóficas, políticas, estéticas… E quando um festival dá “carta branca” a uma editora para programar o seu espaço inserido no festival, o seu código genético é transplantado para o do festival, cruzando identidades. Agradam-me estes projetos de curadoria, pois permitem-nos dar visibilidade a muitos artistas que de outra forma teriam maior dificuldade em chegar a festivais de maior dimensão e de vocação mais generalista. Foi o caso do Mexefest, em que programámos um palco (e que palco, o Coliseu dos Recreios!) o que nos permitiu dar destaque a projetos que estavam a arrancar (Mirror People, Da Chick, etc).



Existem novas dinâmicas que estejam neste momento a desenvolver para criar ao vivo na Disco Texas?

Sim, temos planeadas para o Outono várias iniciativas num espaço que nunca recebeu música ao vivo, e é nossa intenção fazer coisas especiais nesse lugar. Isto porque repetir fórmulas não nos interessa, e cremos vivamente que quando algo nos estimula, esse estímulo é contagioso.




Atuou este ano no Eurosonic. O que trouxe dessa experiência?

Trouxe uma gastroenterite. Brinco. Tocar lá recordou-me d’Uma Viagem ao Corpo Humano, por que de repente “aterrámos” para uma das artérias principais de circulação sangue novo (musical, claro). Foi uma oportunidade gigante poder trocar no GrandTheatre de Groningen, bem no epicentro de tudo.



Foi possível estabelecer algum tipo de contacto internacional com agentes/promotores?

Sim, apesar de na frente do agenciamento trabalharmos há vários anos com uma agência de booking inglesa (ElasticArtists) com a qual estou muito satisfeito, o grande fruto da ida ao Eurosonic foi a subsequente marcação de concertos com promotores europeus.



Como vê a indústria dos festivais daqui a 10 anos, o que acredita virá a mudar?

Não faço previsões a 10 anos, são muito arriscadas. Muito muda. Basta olhar para o cartaz do Sudoeste em 2005 (LCD Soundsystem, Ladytron, Devendra Banhart, Kasabian, Peaches, TheKills). Hoje em dia assiste-se muito à passagem da música para segundo e terceiro lugar. Acho que existe um mercantilismo exagerado em alguns espaços, e creio que há um nível máximo de tolerância por parte do público mais novo. A prova é o sucesso de festivais indie, que proliferam por todo o país.

Preocupa-me também a sustentabilidade de muitos festivais. O facto de serem em locais isolados e pressuporem a construção de muitas estruturas temporárias, bem como a produção excessiva de lixo, não é de todo sustentável, e desejo que mude muito rapidamente.



O Associativismo pode trazer benefício à indústria dos festivais de música em Portugal?

O associativismo pode beneficiar qualquer indústria, quando movido por valores humanos, justos, solidários e sustentáveis.



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