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ENTREVISTA: O Boletim milionário dos festivais pertence a Barcelos, por Joaquim Durães (diretor Milh

O Milhões de Festa teve a sua primeira edição em 2006, no Porto, e chegou a Barcelos em 2010 para se instituir no formato que conhecemos hoje. Tem um posicionamento único em Portugal, com um reduzido número de patrocinadores. É inovador e traçou para si um trajeto nunca antes percorrido no nosso país. O resultado? Durante 4 dias, em julho, Portugal ganha 4000 ‘milhionários’. O Milhões de Festa começa nesta quinta feira e o diretor do festival esteve à conversa connosco.

APORFEST – Tiago Fortuna: Que significado tem o triângulo no Milhões de Festa? Consegue elaborar uma definição?

Milhões de Festa – Joaquim Durães: O triângulo é a forma mais subtil de ligar o âmago do Milhões à festa, que é algo tão Português nos meses de verão. Os triângulos tomam conta das cidades no Norte, na altura do São João, enfeitando as ruas, e isso é algo com que nós crescemos e que associamos, de forma indelével, a festa. Foi uma associação que surgiu com naturalidade e da qual não nos queremos separar.


Depois das primeiras duas edições, o Milhões chegou a Barcelos em 2010 para implementar um modelo que já tem contrato fechado com o município até 2017. Como estabeleceram este conceito em 2010, que trajeto percorreram?

O Milhões de Festa como o conhecemos fez um percurso muito, digamos, descontraído: surgindo, pelo acaso de se marcar uma série de concertos seguidos, no Porto, até à perceção de que tínhamos capacidade com bandas maiores e que muito admirávamos, como eram o caso de The Fall e Electric Wizard, surgiu o protocolo com o município. Era um passo que a Lovers&Lollypops tinha de dar, no sentido de podermos crescer internamente e de preencher lacunas que, desde o início da promotora, temos vindo a tentar colmatar.


Que posicionamento estabelece o Milhões com parcerias/patrocinadores?

O Milhões de Festa é um festival que merece alguma sensibilidade neste ponto: com uma lotação de apenas 4 mil pessoas, um número com que gostamos de trabalhar e que queremos manter, não faria sentido poluir o recinto com publicidade de forma desmesurada. É algo que temos muito em conta, sempre no sentido de preservar a atmosfera especial que tanto prezamos, que se quer descontraída e íntima. Contudo, não fechamos portas, antes pelo contrário: a presença da Vodafone FM e da RedBullMusicAcademy Radio, que assumem naming de palcos (palco Vodafone FM e piscina Ginga Beat, respetivamente), são mais valias para o festival, e relações que queremos manter e desenvolver.


Que receção tem tido o Milhões em Tour? Porque fez sentido iniciar o projeto?

O ‘Isto não é o Milhões de Festa’ surgiu de um evento que a Lovers&Lollypops realizava há já alguns anos, o ‘Isto não é uma festa Indie’. Com a proximidade do Milhões de Festa, adaptámos o conceito no sentido de proporcionar o que toda a comunicação que fazemos não consegue clarificar: apesar de todo o alinhamento e do valor de todos os artistas envolvidos, o ambiente íntimo e a boa onda que pautam Barcelos durante aqueles quatro dias tem de ser vivido. A melhor forma seria levar isso às pessoas, e foi assim que surgiu a tour. Os concertos têm corrido bem, os espaços, escolhidos a dedo, transpiraram o ambiente Milhões, ao mesmo tempo que nos aproxima mais de todas as entidades com que colaboramos ao longo do ano e que nos ajudaram a montar cada um destes eventos.


Vão repeti-lo em 2016?

O ‘Isto não é o Milhões de Festa’ tem acontecido em todas as últimas edições do Milhões, e tencionamos repeti-lo nas próximas, claro.


Qual é o vosso ponto de partida para começar a construir o alinhamento do festival? Quais são os critérios de escolha?

O critério será, sempre, que artistas serão capazes de dar bons concertos, com a tónica naquilo que é novidade, sem ter nenhum tipo de limite de género. Queremos poder receber a pop mais fresca, e poder dar-lhe o mesmo destaque que a eletrónica mais vanguardista, ou com a música tropical mais cativante e festiva. Quando partimos para cada edição e marcamos os primeiros artistas, sabemos o que o resto do festival precisa, um pouco de peso, um toque de psicadélico, ou até de suavidade pop, e procuramos preencher essas lacunas de forma a conseguir um festival tão variado e eclético quanto coerente.


O ‘desconhecido’ é um dos vossos melhores amigos?

Gostamos de boas surpresas, e acho que essa será a melhor forma de encarar o Milhões: está repleto delas, e é com essa certeza em mente que contactamos cada artista presente no cartaz. Não precisa de ser desconhecido, não é uma condição necessária (ou não tivéssemos nós dois colossos no cartaz como o Michael Rother, ex-Kraftwerk e fundador dos NEU!, e os Deerhoof); mas dá-nos um gosto especial saber que pudemos apadrinhar algumas estreias e catapultar para outro nível alguns artistas, como aconteceu com Alt-J, El Guincho, Toro y Moi e Throes + TheShine.


Como construíram a existente relação de confiança entre o público e o alinhamento?

A relação de confiança com o Milhões prende-se, sempre, com o ambiente único e de pura descontração em que o festival acontece, que não descura, em nada, o alinhamento. Quem vai ao Milhões sabe o que vai encontrar, e que a surpresa é um denominador comum — e está disposto a isso, porque fazemos o festival num contexto íntimo, que não é agressivo para ninguém e que tem alternativas para todos os gostos.


Na transição do ano passado para este falou-se no fecho de um ciclo e o início de um novo, um cartaz sem tanto “peso e guitarras”. Porquê?

Acima de tudo, temos de saber reconhecer que essa necessidade, para a qual contribuímos, está a ser saciada de outra forma por festivais que assumem esse foco. O foco do Milhões de Festa não foi, nunca, o peso, nem o riff. Esses géneros de música fazem tanto parte do festival, quanto a cumbia, o techno, a pop e o psicadélico. Fechou-se um ciclo no sentido em que soubemos qual o nosso nicho (ou soubemos descentralizarmo-nos de um para assumir a nossa polivalência), e no sentido em que apostámos, e muito, na internacionalização do festival, e na melhoria desse bem-estar que queremos generalizar em todos os espaços do Milhões.


Existem dificuldades na organização de um festival de música com o vosso posicionamento que não se verificam no circuito mainstream?

Claro, tanto pela localização geográfica do país — as digressões de bandas mais pequenas, por condicionantes financeiras, dificilmente se deslocam até Portugal para acabar, pelo que acaba por ser mais um ponto de passagem do que um destino. E nem sempre esse desvio é possível de conseguir, uma vez que no circuito mais alternativo Portugal ainda se está a afirmar. É um problema cada vez menor, felizmente, mas estamos certos de que tudo seria diferente se o Milhões acontecesse noutro local. Contudo, e este aspeto é muito motivador, seria muito difícil fazer o Milhões de Festa noutro contexto, e Portugal tem muitas outras vantagens que tornam o festival atrativo tanto para a audiência como para artistas, desde o tempo, as viagens mais baratas, o nível de vida mais acessível. No fim do dia, por exemplo, não foi difícil convencer um nome consagrado como o Matias Aguayo a tocar numa piscina, num festival com um alinhamento tão forte quanto o que temos.


Num artigo publicado acerca do 9º aniversário da Lovers&Lollypops, falaram nas dificuldades que existem para subsistir apenas trabalhando nesta indústria. O que nos falta para ganhar mais estabilidade?

Na condição de editora e promotora, a Lovers&Lollypops trabalha com um segmento de mercado da música ainda pequeno, em Portugal. A indústria musical não tem, ainda, dimensão para se afirmar da mesma forma que noutros países e isso leva-nos a procurar a sustentabilidade noutras atividades. Contudo, há a possibilidade de estendermos a nossa área de ação para além da indústria e assumir uma nova faceta, com vista à profissionalização integral da empresa.


Acreditam em benefícios retirados do associativismo nesta indústria?

Claro. O próprio Milhões é fruto de uma união de vários esforços e de forma alguma podemos assumir os galões todos sem valorizar os inputs que resultam disso. Essa é, aliás, uma realidade cada vez mais presente no Milhões. No final do ano passado, deslocámo-nos ao México para dar os primeiros passos no sentido de criar uma associação de festivais que tenham uma missão semelhante à nossa, como acontece com o NRML (Mex), o Bananada (Bra), o Sugar Mountain (Aus) e mais uns quantos certames em que vemos muito valor. É uma rede que promete.


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