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O Arquitecto dos festivais: Artista ou Técnico?

Não sei ao certo responder à questão, mas tenho uma história para vos contar; a de quando comecei a ser chamado “Roberto, o arquitecto dos festivais”.


Não foi fácil aceitar este desafio feito numa (divertida) madrugada do inverno de 2013 quando tinha regressado de um ano no Brasil há apenas uma semana. Foi Karla Campos (Managing Director da Live Experiences) que me fez o convite; nos festivais da Live Experiences (EDP Cooljazz e Sumol Summer Fest) já tinha existido a colaboração a curto termo de um Arquitecto, mas nunca tinha existido um Arquitecto a full time com o papel de Site Planner. Com a minha tenra experiência no mundo da arquitectura, mas principalmente por ser um novo mundo para um jovem que terá de tecnicizar a arte do conceito Arquitectónico, este seria um verdadeiro desafio.

Aceitá-lo (hoje assumo-o como ganho e com pernas para andar) permite-me olhar de uma maneira diferente para o que é efémero e que traz tanta felicidade e boa vibe a por quem lá passa - os Festivais.


Fundamental nos festivais é saber o que é um recinto, que o número de espectadores é uma das prioridades, que as activações influenciam o look do festival e a ocupação de terreno, que as zonas técnicas são grandes e obrigatórias, que corredores técnicos e de circulação são sagrados… mas vamos por partes…


Numa primeira abordagem, nós Arquitectos temos sempre em mente a função do espaço que no caso especifico de um festival não é apenas criar um vazio para nele colocar um palco para as pessoas dançarem; um festival tem (tal como uma habitação) zonas privadas e zonas públicas que não deverão ser coincidentes entre si mas que deverão permitir a circulação entre si. Quando começo a pensar num recinto novo ou noutro já existente, devo sempre saber tudo o que está previsto lá existir. É fundamental estar presente em todas, ou na maioria, das reuniões de produção que abordem temáticas como - Activações, Palcos, Zonas especiais, Actividades e Lotação.


Sabendo já o que um festival deverá conter (tal como para uma habitação o cliente nos pede, X quartos, X salas, zonas de convívio, piscina, etc), parto para a repérage do terreno onde vou conhecer as condições físicas do espaço - no caso de um festival é fundamental ter sempre em atenção que devem existir árvores/sombra em zonas públicas de convívio, grandes espaços abertos para colocação de grandes palcos e backstage, piso regular junto a corredores de emergência, etc para que numa segunda fase possa, sabendo o número de espectadores estimado, delimitar todas as zonas que o festival terá com as áreas correctas para o número de espectadores estimado, para os corredores de emergência, localização e quantidade em m2 de stands de patrocinadores e as suas activações, números de WC’s, de iluminação, de baias, de placas de vedação, de materiais de forro, de alcatifas, etc - por exemplo: ter um patrocinador com 10 puffs à frente do seu stand (como aconteceu nesta edição do EDP Cooljazz com a activação da Caixa Geral de Depósitos nos jardins do Palácio Marquês de Pombal) não significa ter 10 X a área de um puffe, mas sim a área de cada pessoa sobre os puffes + o aglomerado de grupos de pessoas “amigas” em pé à volta desses conjuntos de puffes e a visibilidade que isso poderá tirar a outras pessoas sentadas à volta e consequente ocupação de corredores de fluxo.


A grande maioria dos festivais em Portugal não tem um arquitecto que se dedique exclusivamente ao desenho técnico e rigoroso dos recintos e alguns demonstram uma clara falta deste olhar técnico…

Tal como nós não reservamos uma mesa de 30 pessoas num restaurante para um jantar de 10 ou 45 pessoas, um festival deverá ser planeado para a edição especifica da época.

Mantendo sempre a sua “traça” característica, os recintos devem-nos parecer sempre “no Ponto”, sempre compostos e organizados; num festival (ou na maioria) não procuramos uma feira popular de stands espalhados e pessoas amontoadas, nem um rectângulo de terreno árido e vazio.


Os segredos do papel do Arquitecto nesta concepção resultam em dois aspectos fundamentais:


[if !supportLists]- [endif]O de aumentar a rentabilidade do festival, através de uma ocupação correcta e total da área disponível. Um exemplo disso será o caso de um recinto de plateias sentadas. Recintos de festivais com plateias sentadas desenhados por mim, como é o caso do festival EDP Cooljazz, viram a sua rentabilidade aumentada em cerca de 20%. Antes colocavam-se plateias segundo medições in loco e por suposição/comparação com plateias existentes de teatros; eu desenho todo o recinto, o seu palco (com todos os detalhes técnicos), zonas de backstage, ângulos de visão mortos, áreas de patrocínios, corredores de circulação (etc etc etc) para poder calcular a área útil (segundo desenhos rigorosos de cada cadeira e as suas medidas) para aí albergar o número máximo de cadeiras que terão boa viabilidade para o palco (uma cadeira a mais desenhada por mim é um bilhete a mais que poderá ser vendido, uma cadeira a mais colocada sem estudos prévios poderá resultar numa devolução do dinheiro do bilhete ao espectador por este não conseguir ver o palco ou porque está com pessoas a roçarem-lhe as pernas a passar num corredor estreito de mais. Mas atenção… uma plateia mal calculada também poderá originar poucas cadeiras vendidas por medo de que outras cadeiras não tivessem boa visibilidade - isto resultaria em perda de vendas que poderiam ter sido feitas.


[if !supportLists]- [endif]O de gerar um espaço onde todos se vão divertir em segurança sem se perderem ou ficarem paradas em trânsito humano, através da divisão em layers nos desenhos correspondentes a diferentes tipos de ocupação de um espaço - é quase óbvio para qualquer pessoa que trabalhe no ramo da produção de festivais que a lotação de um festival se mede genericamente pela lotação máxima da plateia do palco principal, mas não tão óbvio é que tal zona (a plateia do palco principal) deverá acolher essas pessoas para verem os concertos + zonas de circulação para que todas essas pessoas possam sair o mais rapidamente possível de lá no final de cada concerto; isto para que as zonas de alimentação/bares e zonas de patrocinadores tenham mais gente a consumir/interagir por mais tempo - Rentabilização Vs. Segurança. Este pensamento é amplamente utilizado por mim na concepção dos recintos do EDP Cooljazz (jardins do Palácio Marquês de Pombal e o estádio do Parque dos Poetas) mas principalmente nos recintos do Sumol Summer Fest (Ericeira Camping e praia de Ribeira D’ilhas). Se por um lado existem corredores de emergência (no exemplo dos fluxos de pessoas para as zonas de alimentação, existirá outro fluxo de pessoas para saídas rápidas em caso de emergência, que por norma são mais numerosas e podem incluir o atravessamento das zonas de backstage para o exterior do recinto) por outro lado existem os chamados corredores de circulação que referi acima. Não existe nada mais incómodo para o espectador (e frustrante para o patrocinador/concessionário) do que ver multidões em manada humana parada em funis ridiculamente estreitos sem deixar o recinto escoar e as esplanadas e zonas de convívio encher/esvaziar rapidamente.

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EDP Cooljazz 2015. Este projecto incluiu: Desenho e formato de plateias móveis, rampas e acessos; fluxos de segurança; disposição de concessionários e sponsor; Medições de capacidades



Certo é que nada poderá nunca ser generalizado, existem festivais em zonas fisicamente delimitadas e que não permitem uma correcta adequação dos espaços e outros, que dada a sua natureza, necessitam justamente de concentrar multidões - nomeadamente no caso de festivais que têm áreas demasiado grandes para o público esperado.

Isto demonstra em parte que o papel de um arquitecto num festival (na minha perspectiva) é diferente em cada festival e (principalmente) em cada edição - seguir de perto o desenrolar do “nascimento” dos conceitos é fundamental, assim como das suas vendas para que o projecto final corresponda às expectativas financeiras do promotor e às expectativas emotivas do espectador.


Uma questão é a rentabilidade contabilística de uma edição e outra é a rentabilidade estratégica de todo um festival que tem tanto o objectivo de dar lucro ao promotor como o de criar novas e boas emoções aos espectadores para que na edição seguinte pensem nesse festival como tendo sido, acima de tudo, uma boa experiência a repetir!


Para não deixar de lado a parte artística do arquitecto (até porque seria forçado dizer que me consigo abstrair dela neste papel) é importante perceber que não sendo da responsabilidade da produção do festival a totalidade da decoração do recinto (que em grande parte é resultado das activações dos naming sponsors) é fundamental que eu esteja sempre a par das activações e decorações dos principais patrocinadores já que todas as estruturas que permitirão tais decorações são sempre posicionadas nos desenhos técnicos por mim (com aprovação conjunta de todos os intervenientes) para que a junção de todos os focos decorativos resulte o mais harmonioso possível.

Existem, contudo, locais da responsabilidade do promotor (ou conjunta do promotor com o naming sponsor) tais como as bilheteiras e welcome center - a cara do festival (no caso do Sumol Summer Fest faço o decore destes espaços utilizando elementos inerentes ao conceito de cada edição), os pórticos de entrada - as portas do festival (nesta edição do Sumol Summer Fest idealizamos um novo pórtico em conjunto com a Sumol+Compal com um estilo mais urbano e industrial) e as zonas de convívio e descanso - que são as zonas onde o espectador mais olha à volta com tom crítico (onde tanto no EDP Cooljazz como no Sumol Summer Fest procuro sempre soluções inovadoras através da utilização de gambiarras, bandeiras, paletes, etc); esses locais são planeados e decorados por mim como arquitecto nos projectos em que trabalho para que o festival crie melhores experiências em cada recanto.


Decoração de um festival na minha perspectiva de arquitecto significa: jogos de luz, utilização da cor em luz, esplanadas, zonas de descanso, sombras, telas, decoração física, pesquisa de tendas, pesquisa de estruturas inéditas, novas tendências e tecnologias, estar sempre atento a tudo o que se passa no mundo do live entertainment…


Não sei se fui muito claro em afirmar (entre linhas) que o arquitecto no desenho físico de um festival é um artista que tenta tecnicizar a arte da criação arquitectónica - “por de pé um conceito técnico”… O mais divertido possível.


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Sumol Summer Fest 2015. Localização e Plano do palco de Ribeira D'ilhas


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