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A mística de um festival ímpar, por António Cunha (diretor Uguru / Misty Fest)

Está a decorrer até ao dia 14 de Novembro o MistyFest. O festival de Outono que se distingue pelos concertos íntimos e irrepetíveis de cantautores de referência nacional e internacional. A APORFEST falou com António Cunha, diretor da Uguru, sobre o percurso de um festival que sem patrocínios começou em Sintra e ganhou amplitude nacional. Em 2015, são esperadas entre 20 a 30 mil pessoas no evento.


APORFEST – Tiago Fortuna (A): Como nasceu o conceito do MistyFest e porque fez sentido criar o festival?

António Cunha (AC): Trago a Portugal, já há muitos anos, singer-songwriters internacionais e uma das coisas que eles me pediam, quando cá chegavam, era se os levava a Sintra porque tinham muito interesse em conhecer este lugar por todas as referências que tinham da história e da poesia… E então, já que me falavam sempre nisto, pensei: porque não começar a produzir um evento em Sintra com esta tipologis? Acabámos por acrescentar-lhe a dinâmica ambiental que o seu micro clima tem, e com que as pessoas se identificam, caracterizado também por um certo misticismo.

O que aconteceu depois foi que o festival teve de sair de Sintra, por razões económicas. Era suposto termos recebido um apoio da Câmara Municipal de Sintra, mas o início do projeto coincidiu com a crise económica e acabámos por não o ter. Saímos de Sintra, o festival tinha de ser inteiramente financiado pela venda de bilhetes, e viemos para Lisboa e para o Porto. Depois começámos a expandir-nos, este ano estamos em sete cidades, embora se mantenham sempre como polos principais o CCB e a Casa da Música.


(A): O que distingue o Misty Fest no panorama dos festivais?

(AC): O festival caracteriza-se desde o início, e até hoje, pela presença de singer-songwriters. Selecionamos os artistas de forma cirúrgica, este ano recebemos nove artistas e seis estão a apresentar novos espetáculos no Misty. Como Iron&Wine que atuaram pela primeira vez em Portugal nesta edição, ou Mayra Andrade que no Misty Fest fará algumas estreias, como uma colaboração inédita com a Sara Tavares, juntando-se pela primeira vez em palco duas figuras muito associadas a Cabo Verde. Desde o início do festival que damos também destaque a um artista do universo da África Lusa, digamos assim, e já tivemos por exemplo Aline Frazão.


(A): O Misty Fest distingue-se pelos concertos em todo o país, com espetáculos em Lisboa e Porto, mas também em diferentes territórios, menos centrais. Porque é importante para vocês ter esta dinâmica?

(AC): A Uguru é desde sempre uma empresa que desenvolve o seu trabalho muito próxima dos teatros e das salas porque o nosso tipo de artistas, que representamos em Portugal a título exclusivo, tocam para um público adulto, mais em salas do que noutro tipo de espaços. Conhecemos bem a rede de salas portuguesas e foi algo natural. Com este festival estamos focados na música, sem a ideia de entretenimento que a acompanha nos festivais de verão. Pretende-se que as pessoas ouçam o concerto com a maior qualidade possível e por isso procuramos as melhores salas que existem em Portugal para se associarem ao festival. No ano passado tivemos o grande auditório da Gulbenkian, que no próximo ano teremos de novo, muito provavelmente, e todos os anos mantemos a preocupação em fazer os concertos em salas de grande qualidade.


(A): Quais são as maiores dificuldades que têm encontrado ao longo destas seis edições?

(AC): Temos duas principais dificuldades: a financeira, porque o festival é feito sem patrocinadores, e a outra, que acaba por se cruzar com a primeira, é nem sempre conseguirmos contratar os artistas que mais desejamos, por não estarem disponíveis ou pelas ofertas que lhes fazemos não serem suficientes. Por esta razão, acabamos por fazer duas ou três cidades, se fosse apenas um concerto em Lisboa, ou no Porto, teríamos mais dificuldade em trazer os artistas, tendo dois ou três concertos os artistas ficam com mais interesse em vir a Portugal.


(A): O Misty Fest não tem o habitual suporte de patrocinadores, porquê?

(AC): Todos os anos tentamos angariar patrocinadores, apesar de não termos uma estrutura de angariação de patrocínios, mas é algo que procuramos anualmente só que os patrocinadores estão mais interessados em festivais de verão, em situações onde possam expor a sua marca. Estas salas têm uma série de regras que não permitem a exposição dos produtos como os patrocinadores gostariam, não conseguindo [por isso] obter o mesmo resultado em termos de exposição e vendas que nos outros festivais.


(A): Acredita nos benefícios do associativismo nesta indústria?

(AC): A colaboração entre pares, a troca de experiências e uma forte rede de contactos é sempre muito útil em qualquer área. No entanto, as necessidades de um promotor de um evento pequeno e de um evento de grandes dimensões são muito diferentes, existem sempre assuntos que podem ser partilhados e são de interesse geral, mas não sei se serão suficientes. As coisas podem ser muito diferentes entre concertos e festivais embora existam discussões comuns, como por exemplo, o aumento do IVA dos bilhetes, que afeta todos os promotores, ou o facto de ser cada vez mais difícil colar cartazes nas cidades e as câmaras não darem alternativas fortes para a promoção, enquanto os espaços comprados de publicidade têm custos altíssimos para muitos promotores.


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