O jornal New York Times, um dos maiores orgãos de comunicação mundiais, indicou esta semana que não irá fazer a cobertura jornalística de três dos maiores festivais americanos em 2016: Coachella, Bonnaroo e o novo Panorama (organizado pela mesma promotora do festival da Califórnia). Na sequência desta comunicação, vários outros orgãos (nomeadamente os de cariz online, como o Consequence of Sound) criticaram tal decisão em virtude da não adaptação do jornal naquilo que hoje são e valem os festivais.
Créditos: Facebook Coachella
Vamos a factos:
- "Em vez de cobrir os grandes festivais por reflexo, vamos cobrir uma série de festivais mais pequenos com uma finalidade”. O New York Times não pretende fazer a normal cobertura dos maiores festivais, em virtude de hoje estes não representarem o que para si representaria uma correta análise jornalística, uma vez que criticar qualquer concerto não fará sentido pois não representa o cerne de cada um dos eventos (estes são referidos que são sociais em vez de musicais, na sua essência). Da mesma forma, os concertos nestes festivais são mecanizados não havendo espaço para a criatividade e individualidade dos seus artistas (tudo está pré-produzido e trabalho por antecipação), não se encaixando aqui o papel do jornalista como crítico músical;
- "Cobrir um festival não é apenas reportar os artistas e as suas performances – é observar como o público reage às actuações". A resposta do Consequence of Sound foi direta, criticando quem se dirige profissionalmente para cobrir um festival e não procura saber o que lá se passa em termos da sua envolvência, ignorando o público e as atividades que nele se produzem e que são ou deveriam ser alvo de notícia. Indicou também que a música não tem de estar necessáriamente na frente de análise de um festival.
Vamos a opiniões:
- Que o mundo está a mudar já o sabemos e ouvimos, desde sempre, mas cada vez mais as consequências traduzem-se na adaptação dos meios de comunicação (nomeadamente os mass media - jornais impressos, Tv e rádio) aos novos tempos, onde se tem de fazer mais com (muito) menos;
- O valor dos meios de comunicação generalistas é claramente superior aos online, mas são os últimos que conseguem analisar e muitas vezes dar a informação que o público precisa quando pretende ir ou está num festival. São estes também capazes de fazer perdurar a a análise de um festival com maior pormenor e de forma mais prolongada no tempo. São também os meios online a quem é exigido mais, tendo menos retorno pelo seu trabalho. Vale a pena?
- Como lidarão os promotores dos festivais mais mediáticos e que necessitam do maior espaço possível na imprensa para poder valorizar a associação das marcas ao mesmo? Sem a presença e divulgação dos principais meios, como farão valer os seus eventos? Apenas por publicidade?
- Num passado recente, orgãos de comunicação online português criticaram a diferença de tratamente existente sobre si nos maiores festivais de música portugueses, casos do New in Town e Shifter. Aqui, como em tudo, pratica-se a "lei da oferta e da procura".
- Em 2004, com a entrada do Rock in Rio em Portugal, o trabalho com a imprensa fez-se de forma mais justa e equitativa, mas do mesmo modo menos seletiva, fazendo alterar de forma transversal a atitude de promotores junto dos orgãos de comunicação, pensando-se mais a longo prazo que no interesse puramente imediato na promoção de um festival.
O que acontecerá então em Portugal, no ano de 2017?