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Um festival na ilha. Entrevista a António Pedro Lopes (co-diretor artístico Tremor)

Tremor - um festival que se afirma cada vez mais no panorama nacional. Virá, em 2016, com uma produção e programação cada vez mais ousada naquele que será o seu terceiro ano de realização consecutiva. Um festival pré-primaveril que vai marcando a sua agenda, aproveitando o facto de hoje o acesso aos Açores (nomeadamente a capital de são Miguel, Ponta Delgada) estar mais facilitado. Falámos com um dos seus responsáveis, António Pedro Lopes.


Vem aí a 3ª edição do Tremor. Um festival realizado em Ponta Delgada (Açores) e que terá este ano significativas evoluções. O que podemos esperar?

Em 2016, passamos o programa de um só dia, para assumir uma programção de 5 dias. O Tremor são 5 dias de residências artísticas, concertos supresa, workshops, filmes, conversas e colaborações artísticas. De 15 a 18 de Março, o Tremor toma a ilha como um palco, e a 19 de Março mantém o formato de explosão de concertos, em 24 horas espalhado pela cidade de Ponta Delgada. Esperem palcos com curadorias convidadas (Le Guess Who? + BelmontBookings trazem Black Mountain, Julianna Barwick e Suuns, por exemplo), o dobro dos artistas açorianos, um (ou dois) sonho(s) americano(s) na programação e uma cidade que abre as portas para se revelar surpreendente atrás de paredes. Esperem também ser surpreendidos por um programa artístico verdadeiramente interdisciplinar que pode tremer a imagem do cartão postal, e claro, esperem águas quentes, lagoas maravilhosas, peixe fresco, carne suculenta, o melhor queijinho do mundo, proximidade e informalidade, "do it yourself" no fazer acontecer e muitos artistas e palcos para descobrir.


Como se querem definir no panorama dos festivais em Portugal?

São Miguel nos Açores é um lugar único. A sua magnificência periférica, a qualidade tempo/espaço, a monumentalidade da sua natureza, a informalidade e proximidade possível com uma comunidade afável e curiosa inspiram um espaço livre de criação e colaboração perfeito para encontros de artistas com artistas, e de artistas com o contexto. O Tremor quer definir-se cada vez mais como hub atlântico, ponte entre a América do Norte e a Europa que inaugura um novo palco para a música independente e para o intercâmbio entre artistas, e um estaleiro de criação musical e cruzamento entre disciplinas e experiências. No Tremor interessa-nos o roteiro de música intenso, experimental e eclético que convida todos a participarem numa proposta de vibração colectiva e urbana, o movimento que cria sinergias e colaborações para agitar São Miguel e, ir evoluindo a par das mudanças e novidades do território. Queremos definir-nos como um festival de criação de cultura, uma janela de oportunidades e curiosidades de e para o mundo, uma plataforma para os criadores do mundo e da terra, um recreio que brinca com formatos de apresentação e convenções de fruição, um processo que coloca a música no centro e a transforma em filme, conversa, encontro e que cria produtos e coisas novas a que também não se saiba dar o nome. Finalmente, queremos que o festival seja um trampolim para uma mundividência expandida e porosa à diversidade, à experimentação e à inovação.


Será a primeira edição, desde a entrada das companhias lowcost no arquipélago. Que vantagens sentem a nível de público e logística do festival?

Os preços das viagens custam [agora] até 10 x menos. Há 4 companhias a voar para os Açores. Férias a um destino de luxo como os Açores são agora mais possíveis e económicas. Surgiram novas unidades hoteleiras na Ilha de São Miguel para vários tipos de bolso e experiências. Tendo em conta o preço lowcost de 20€ do passe geral (25€ a partir de 15 Março), não há desculpa para aceitar o convite da experiência natureza + música que o Tremor oferece. Muitos cidadãos continentais e europeus equacionam agora deslocar-se ao festival ,e aproveitar o festival para se estrearam ou explorarem a maravilha que é a Ilha de São Miguel, especialmente no descanso que é a época baixa. Para nós enquanto organização é bastante vantajoso porque existem mais opções, e a competitividade no ramo hoteleiro permite ter preços mais acessíveis.


Como é o vosso trabalho na angariação de apoios de marcas e do governo regional dos Açores. Que dificuldades sentem?

A angariação de apoios é feita ao longo do ano quer no território açoriano junto de marcas, instituições locais, o governo e o município, mas também nacionalmente junto de empresas nacionais, ou internacionais com representação em Portugal. Trabalhamos também conjuntamente com artistas a procurar meios que garantam a viabilidade financeira de projetos específicos que estejam a desenvolver connosco. No que diz respeito às marcas, procuramos conjugar o apoio ao princípio de ativação das mesmas, elaborando criativamente propostas que vão de acordo com o espírito do Festival e a filosofia da marca. A nossa maior dificuldade prende-se com o momento do ano em que o Festival decorre, isto é, o primeiro trimestre. Grande parte dos orçamentos públicos e privados ficam determinados em Janeiro, e decorrendo o Festival em Março, temos que percorrer sempre a ansiedade dessa definição.


Como é feita a parceria com a Lovers&Lollypops?

O Tremor é organizado pela Yuzin Agenda Cultural, por mim que sou artista e curador independente e a Lovers&Lollypops. Desde a primeira edição que a parceria entre os três é um trabalho em progresso, uma vez que se vai adaptando às direções, natureza e dimensão que o festival vai tomando de edição para edição. Até aqui, é uma parceria feita de diálogo nas escolhas de programação e curadoria, é uma democracia a 4 vozes com perspectivas complementares, e um esforço conjunto 360º de produção e comunicação. Existe uma articulação entre o conhecimento do contexto, os seus agentes, públicos e funcionamento da realidade Açores da Yuzin, o input artístico, produção e gestão que eu trago, e a mais valia do trabalho de agenciamento de artistas, knowhow de produção de eventos musicais e assertividade e qualidade nas escolhas artísticas da Lovers&Lollypops. A composição do festival é feita num equilíbrio entre ação no terreno, muitos skypes, emails, telefonemas e chats de facebook abertos ao mesmo tempo. A conversa, a diferença de perspectivas, as dúvidas artísticas na relação com a estabilização da logística às vezes complicam tudo, mas a troca é super rica, e efetivamente cria resultados interessantes do ponto de vista da proposta global.



Qual o papel que acham que a APORFEST / TALKFEST tem na melhoria e competividade dos festivais em Portugal?

A APORFEST informa, transmite conhecimento, apresenta casos de estudo e exemplos de boas práticas e inovação no contexto dos Festivais. O trabalho de Networking entre Festivais diferentes do mesmo país é muito importante também para sabermos o que é que aqueles ao nosso lado andam a fazer, e como pensam os seus projetos. Considero urgente cada vez mais a criação de uma zona aberta de discussão, encontro entre entidades e regiões diferentes. Cada contexto é um contexto, cada projeto é um projeto, é certo, mas estamos quase sempre demasiado ocupados a salvar “o nosso mundo”, e considero importante para melhorar, não só sistematizar a informação sobre o que existe, mas também, olharmos para o lado, encontrarmo-nos para saber e aprender uns com os outros. Informação, com-versa e colaboração parecem-me as chaves para continuar a melhorar e irmos mais além nas proposições de experiência que fazemos aos públicos.


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