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Ensino Artístico em festival - a missão do Harmos. Entrevista: Bruno Pereira (diretor)

Conta já com mais de uma década de existência e tem uma envolvente própria e caráter diferenciador a nível evolutivo na concepção artística e formativa de novos executantes. O cerne está na música clássica mas o Harmos Festival é muito mais que isso, representa uma união entre artistas, escolas e municípios tendo um claro reconhecimento internacional. Falámos com Bruno Pereira, o seu diretor, que nos explicou a estratégia em que o festival se assenta e se pretende destacar.


APORFEST: O que é o Harmos Festival?

Bruno Pereira: O Harmos é um conceito único em todo o espaço europeu que reúne os melhores alunos de algumas das mais conceituadas escolas superiores de música do Mundo. Focamo-nos essencialmente na excelência e na qualidade das propostas musicais e na promoção destes jovens e talentosos músicos. Este é ainda o palco privilegiado para masterclasses, concertos comentados, para a promoção da criação e edição musical e para a reflexão no campo da Música de Câmara em estreita articulação com a International Chamber Music Conference. A convivência saudável entre o que já foi feito e o que ainda está por fazer, a confrontação entre tradição e contemporaneidade, confere uma identidade ao conceito do festival e tornam-no um motor cultural em todos os contextos em que marca presença. Pretende ser sempre um projeto em devir, aberto e flexível às mudanças que o possam tornar ainda mais apelativo para os seus públicos, promovendo a música de câmara como um género excitante e muito próximo da audiência. O Harmos festival é organizado pela Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo (ESMAE) do Politécnico do Porto (P.PORTO) e conta com a colaboração de uma vasta rede de Instituições de Ensino Superior Artístico em todo o Mundo.

Como foi o vosso crescimento (e reconhecimento) até aqui?

O Harmos foi fundado em 2006 e nestes 12 anos de existência tem crescido a todos os níveis. Em 2006 lançámos um festival relativamente pequeno que nos permitisse testar o modelo e mostrá-lo a parceiros que queríamos ter connosco para o desenvolvimento do projeto. Funcionou exatamente como queríamos e na segunda edição, em 2007, o festival ganhou uma maior dimensão principalmente ao nível do impacto nos públicos e nos meios de comunicação social. Claro que as referidas parcerias conseguidas em 2007, como foi o caso da Casa da Música, tiveram um papel preponderante neste desenvolvimento. No arranque do projeto foi também fundamental a colaboração entre a ESMAE e a Engenho das Ideias, uma produtora cultural, e alguma loucura e atrevimento de pessoas como o Carlos Pinto da Costa e o Rui Couto que deram muito de si neste processo de crescimento.

Em 2008, desenvolvemos um pouco mais o conceito e criámos o conceito das cidades Harmos, um conceito transformador do festival que lhe trouxe uma dimensão muito importante de impacto nos territórios. O reconhecimento nacional e internacional foi crescendo progressivamente e tornou o Harmos num evento cuja existência se tornava cada vez mais inquestionável. Em 2011, fomos nomeados para os Prémios Novo Norte ao lado de instituições de referência como por exemplo a Fundação de Serralves e o Teatro Nacional de São João. Para além de muitas outras diferenças estávamos ao lado de projetos com orçamentos completamente distintos do nosso. Por muitos anos fomos recorrentemente apoiados pela Direção Geral das Artes nos apoios anuais e mais tarde bienais com excelentes críticas por parte dos júris do concurso.

Mais tarde, em 2013, entendemos que poderíamos abrir a porta a propostas musicais mais diversificadas e interdisciplinares. Foi aí que criámos várias vertentes do festival que, mantendo o mesmo conceito de reunir Instituições de Ensino Superior de referência mundial, nos permitiram entrar no jazz, nas músicas do/no mundo, na arte sonora, na música eletrónica para além de manter um grande foco na Música de Câmara que tinha sido, até aí, o género mais explorado. Realizámos três edições do Harmos Plural (2013, 2014 e 2015) e mantivemos o Harmos Classical totalmente dedicado à Música de Câmara. Foram anos que exigiram um esforço grande com duas edições anuais e, em 2015, com a nossa primeira aventura de internacionalização do conceito com o Harmos Brasil 2015, no Rio Grande do Sul. A parceria com a Comunidade Intermunicipal do Ave, representante de 8 municípios, foi muito interessante e concretizou um impacto no território ainda maior. Chegámos a ter edições com 10 cidades o que implicava um esforço enorme e um alargamento substancial da equipa de produção.

Em 2015-2016 e 2017-2018 foi-nos atribuída a EFFE label, um reconhecimento internacional por parte da Associação Europeia de Festivais, importante para aumentar ainda mais a visibilidade do festival a nível nacional e internacional.

Em 2016 demos mais um passo no desenvolvimento do conceito com uma participação ativa na criação e produção da Conferência Internacional de Música de Câmara, um espaço de reflexão internacional sobre o tema. A Música de Câmara é um género musical que estranhamente não tem a mesma visibilidade de outros géneros e acreditamos que as sinergias entre a prática e reflexão poderão alavancar cada vez mais este género, quer na programação musical, quer na importância da Música de Câmara nos currículos e nos projetos académicos de escolas de música. Repetimos este modelo em 2018 e estamos já a preparar uma nova edição conjunta em 2020. Estamos ainda a colaborar ativamente na criação de um festival que tem o HARMOS festival como modelo, em Leipzig e que terá lugar já em 2019. Temos muitos e interessantes desafios pela frente.

Como é a relação com os principais municípios onde se realiza o evento - Barcelos, Porto e Sta. Maria da Feira?

As cidades Harmos, como já foi dito, têm um papel absolutamente fundamental na nossa estratégia de impacto nos territórios e de criação e consolidação de públicos para a música de câmara. As cidades que têm estado connosco desde a criação do conceito em 2008 têm partilhado essa responsabilidade de chegar às pessoas de todas as idades e de todos os estratos sociais. São elas que melhor conhecem o seu território e a sua colaboração ativa potencia em larga medida o impacto dos nossos eventos que vão desde a concertos em espaços convencionais e não convencionais, a concertos comentados, workshops, masterclasses nas escolas vocacionais de música, intervenções em espaço público, palestras, conferências e muitas outras iniciativas que, ao longo dos anos, têm dado frutos visíveis. Barcelos e Santa Maria da Feira têm estado connosco de forma continuada,mas existem muitos outros municípios que também têm sido presenças regulares nas nossas edições do HARMOS como Braga, Lousada, Matosinhos, Albergaria-a-Velha, Vila do Conde entre muitas outras ao longo de cerca de 10 anos. O Porto tem assumido, nos últimos anos, uma participação muito relevante no projeto contribuindo de forma decisiva para o crescimento do modelo e do festival.


A que tipo de público se conecta o festival? Apenas nacional?

O festival tem trabalhado no sentido de chegar a um público cada vez mais diversificado. É um trabalho que tem tido em conta a cativação de novos públicos, mas também a consolidação de um público fiel, conhecedor e já apreciador.

Como já foi dito as cidades têm aí um papel decisivo com resultados muito visíveis na conquista de um público regular para a música de câmara. De referir que, num estudo feito em 2012, cerca de 80% dos nossos públicos nunca tinham assistido a um concerto de música de câmara. Temos também constatado uma clara evolução em termos de número de espetadores nos concertos do festival, sinal de que estamos no bom caminho.

O nosso público é essencialmente nacional, mas temos cada vez mais estrangeiros nos nossos concertos (sobretudo no Porto). Para além disso temos tido incursões no estrangeiro que nos têm permitido mostrar o nosso trabalho além-fronteiras. Vigo foi já cidade Harmos e em 2015 realizamos uma edição especial do festival no Brasil, no Rio Grande do Sul. Temos tido, ao longo das várias edições, concertos transmitidos online, em direto e em diferido, que têm permitido que muitos dos nossos parceiros internacionais possam constituir-se público dos nossos eventos. Isso tem permitido ainda criarmos, passo a passo, um interessante repositório de concertos (HARMOS contents) que disponibilizamos, parcialmente, no nosso canal de youtube e nas nossas redes sociais.


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O vosso festival não é apenas dirigido para o público final mas também uma construção de competências artísticas. Porque pretendem ter essa premissa como um dos principais vetores?

Sim, uma parte central da nossa identidade enquanto festival tem que ver com a exclusividade de propostas serem de Instituições de Ensino Superior (IES) internacionais. Assim, seria estranho que não considerássemos a questão da formação. A apresentação pública, em concerto, é fundamental para a formação de um músico profissional. Não é possível pensar num músico que não se apresenta em público. Essa prática é extraordinariamente importante e o Harmos é um palco privilegiado para tal.


De que forma a APORFEST e a introdução no Talkfest e Iberian Festival Awards poderá ser importante para o desenvolvimento deste evento?

A visibilidade de um evento é muito relevante para que se cumpra uma parte importante da sua função que é chegar aos públicos. Quanto mais for conhecido o festival mais oportunidades teremos de alargar a nossa franja de espetadores.

Para além dos públicos penso que temos sempre muito a ganhar com a partilha de experiências a tantos níveis da organização e produção de eventos similares. Essa rede de festivais é certamente uma mais valia para nós e as sinergias que poderão ser encontradas têm o condão de nos surpreender e de permitir a construção de um evento aberto e com vontade de se tornar cada vez mais interessante e robusto. O HARMOS vive intimamente ligado a redes institucionais e compreende claramente que a possibilidade de alargar a sua rede só pode ter aspetos positivos.

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