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De Budapeste para o Mundo - o Sziget Festival é uma fórmula de sucesso, por Andras Berta

Recebe festivaleiros de 87 nacionalidades diferentes e é um dos maiores festivais de música do Mundo. Andras Berta é o responsável de Marketing e Relações Públicas do Sziget Festival e esteve em Portugal como formador no curso de Music Festivals Management (promovido pelo Talkfest e a Lisbon Executive Academy). A Aporfest conversou com Andras sobre Marketing e Relações Públicas, mas não só. O impacto da queda do muro de Berlim nos festivais, as marcas e porque o Sziget é um festival único são outros temas que não passaram ao lado.


Tiago Fortuna - Aporfest (A): Quais são os elementos chave para uma campanha de Marketing e Relações Públicas de sucesso?

Andras Berta (AB): Hm... Temos de pensar nisto como um conjunto, um pacote. Marketing e Relações Públicas lado a lado, e não Marketing de uma forma e Relações Públicas de outra. A imprensa é também uma parte fundamental deste conjunto. Conhecendo a mensagem e qual é a estratégia integrada e adequada para transmitir essa mensagem, teremos uma estratégia de comunicação de sucesso - um pacote que podemos usar.


(A): Como é que o Sziget planeia a sua comunicação perante os diferentes canais de difusão da informação existentes?

(AB): Nós usamos praticamente todos e cada mensagem tem o seu canal apropriado, que pode ser facilmente encaminhado para o público alvo. Se o que queremos é manter a sensação de szitizenship* ou o sentimento de união, no dia a dia, continuamos a acreditar que o canal certo é o Facebook. Se queremos focar-nos em vendas de bilhetes ou informação acerca da programação, então usamos o nosso site e a app para smartphones. Se queremos comunicar a vivência do festival acreditamos que Youtube é bom, ou mesmo o instagram com algumas imagens. Desta forma, não consigo nomear “o” canal mais importante, o online é realmente importante, mas também a presença offline como posters ou imprensa escrita são muito importantes. Se estivermos só no online não é necessariamente suficiente, depende muito do mercado onde é mais adequado investir na transmissão da mensagem. Se for um país com menor recurso à Internet vão ser precisos mais media mixes. Não posso destacar um e dizer “o Facebook” é a chave, porque só o Facebook não seria suficiente.

[*o festival chama aos festivaleiros de Szitizens e szitizenship é uma nacionalidade simbólica dada durante o festival]


(A): Numa review do The Guardian sobre o Sziget foi escrito que os festivais do leste europeu são especiais porque são uma celebração da liberdade depois da queda do muro de Berlim. Podia comentar esta ideia?

(AB): Estamos sem dúvida à procura de muito mais que um festival de música, do que posso falar é do nosso festival. Alguns dos festivais do leste Europeu vêm o Sziget como um exemplo a seguir. Acho que fomos um dos primeiros festivais no centro do leste europeu a começar, em 1993, após a queda do muro e a mudança do sistema político. A razão histórica para o Sziget ser tão festivo é simplesmente pelo facto que não havia atividade a decorrer durante o verão. Já não havia a juventude socialista, como os campos de férias, não haviam atividades e os fundadores do Sziget tiveram a ideia de criar algo que envolvesse a música mas também muitas mais atividades. Não queremos apenas juntar-nos e ouvir música. Queremos estar juntos e poder disfrutar das mais diversas formas de arte! Penso que a complexidade do conceito do festival, e dos festivais do centro do leste europeu, é também fruto de não termos olhado muito para os padrões dos festivais ocidentais. Não procuramos seguir esses exemplos, ainda que existam festivais semelhantes, como o Glastonbury, mas a ideia fundadora do Sziget nasceu de uma urgente necessidade de celebrar a vida em conjunto, e isso é muito mais que apenas assistir a concertos.


(A): Existem muitos festivais dependentes de marcas, de que forma conseguiu o Sziget criar uma identidade tão forte, que continua a ter patrocinadores, mas não de uma forma tão evidente?

(AB): Essa pergunta pode ser respondida a partir de duas perspetivas. Se quiserem tornar-se num naming sponsor, o Sziget é um festival muito grande, com um enorme orçamento, e ser um naming sponsor irá custar – obviamente - mais que noutros festivais ou mesmo comparando com o Sziget nos anos noventa [Pepsi Sziget], é uma questão de dinheiro. Não existem realmente muitos patrocinadores com capacidade para serem naming sponsor. Por outro lado, nós mantemos os preços elevados para os patrocinadores porque não queremos manchar o “caráter limpo”do festival com um patrocinador que entre, através de um fraco investimento, e depois não é realmente devoto do conceito. Temos de garantir que se uma empresa quer patrocinar o evento, quer seja o naming ou simplesmente estando presente, que eles se identificam com o conceito do Sziget e não se trata de sermos nós a implorar-lhes por investimento, são eles a questionar-nos sobre a possibilidade de estarem presentes. Se todo o processo for começado com esta atitude, tentando garantir que os patrocinadores chegam com o investimento certo e a comunicação certa, então o festival será mais saudável. Para resumir, tentamos garantir que não nos vendemos facilmente, não temos uma grande dependência de patrocinadores mas sim de bilheteira e queremos garantir que as pessoas não se sentem assoberbadas pelas marcas quando entram no festival.


(A): Qual é a ideia que tem dos festivais portugueses?

(AB): Não tenho uma ideia muito definida, nunca estive em nenhum. Tenho alguns amigos portugueses e convidei-os para irem ao Sziget, aí há uns 15 anos, eles adoraram. Muitas pessoas gostam mesmo da energia do Sziget e isso diz-me que talvez não existam assim tantos festivais com um caráter tão artístico e focado nas artes mas sim festivais sobretudo focados na música. Talvez os festivais portugueses venham nesta direção, o público parece-me – numa primeira impressão – bastante aberto. Se tivesse a tarefa de começar um festival em Portugal iria, muito provavelmente, usar o modelo do Sziget porque vejo abertura perante ele. Mas não sei qual seria a melhor oportunidade.


(A): Os nossos festivais são bastante focados na música. Talvez o que consegue ter uma abordagem mais artística semelhante à do Sziget seja o Boom Festival.

(AB): Ah, sim! Temos na Hungria um festival bastante semelhante ao Boom, que não é da nossa promotora, e atrai muitos estrangeiros. Não é um evento nosso, mas sabemos que sempre que existe Boom não vão vir tantas pessoas ao O.Z.O.R.A., o Boom é o grande festival do seu género. É, sem dúvida, um festival de que ouvi falar.


(A): De que forma pensa que os festivais de música podem beneficiar da fundação de uma associação como a APORFEST?

(AB): Se os associados estiverem dispostos e prontos a partilhar o seu know how podem beneficiar muito. Eu tenho uma má experiência na Hungria, existe uma associação que procura mais desempenhar o papel de “padrinho” que outro. Tentando criar políticas sem realmente trabalhar com os associados mas sim acima deles, e isso levou a que ninguém quisesse fazer parte da associação. Desde que a associação atue como uma associação e os membros estejam motivados não para competir uns contra os outros mas sim para partilhar know how, então vale a pena. Têm de ser encontrados objetivos e motivações comuns para que estejamos todos do mesmo lado, tudo isto continua a ser um negócio e os festivais continuam a competir entre si. Mas se for encontrada a motivação certa para trabalhar em conjunto então terá mesmo muito potencial. A motivação certa pode atrair estrangeiros para Portugal ou fazer contratações mais facilmente. Desde que exista uma lógica de trabalho win-win então será benéfico.


Sobre o Sziget Festival: Acontece em Budapeste, na Hungria, numa ilha que se situa no centro da cidade. É um dos maiores festivais de música do mundo e recebe anualmente 400 mil pessoas. É uma experiência de fusão e infusão nas artes. Vale a pena ver o aftermovie de 2014.

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