Vem aí mais uma edição do Festival MED, que ocorre por várias zonas do Centro histórico do Município de Loulé e que aposta na sua valorização, diferenciação em Portugal, através de uma aposta cada vez mais forte na internacionalização. Falámos com o coordenador do festival, Carlos Carmo.
APORFEST: O Festival Med vai para a sua 13ª edição. O que é o festival hoje e que diferenças encontramos para a edição de 2004?
Carlos Carmo: Apesar dos objetivos que nortearam a criação deste evento e a sua essência não terem sofrido grandes alterações, ao longo destes anos o Festival MED cresceu de uma forma tremenda, ultrapassando até as expetativas iniciais, pelo que foram necessárias algumas adaptações e inovações que acompanharam este desenvolvimento.
O Festival MED nasceu em 2004, no âmbito do programa de “Loulé, Cidade Anfitriã do Euro 2004”, com o objetivo de criar um evento de referência na região e no país, um festival de música diferente e único, que potenciasse a promoção do Concelho e permitisse qualificar e diversificar a oferta da sua principal atividade económica - o turismo. Por outro lado, na génese deste evento estava também a promoção e divulgação da cultura dos países da Bacia do Mediterrâneo, com particular incidência na música. Já no segundo ano de realização do MED, aliou-se a este conceito a ideia de revitalizar e dar a conhecer aos visitantes a Zona Histórica da cidade, numa perspetiva de dinamização cultural, até porque esta parte da cidade esteve durante anos “afastada” dos louletanos.
Desde o ano de estreia o Festival MED cresceu, ganhou um maior número de visitantes e de “adeptos”, para além da grande notoriedade alcançada junto da crítica e do público. O conceito inicial também sofreu alterações pontuais, alargou-se o âmbito geográfico da Bacia do Mediterrâneo para as culturas do mundo, passando a integrar no seu alinhamento artistas dos quatro cantos do mundo, bem como a gastronomia ou o artesanato dessas nações. O crescimento do Festival passou também pela ampliação do recinto, que se verifica de ano para ano. Para além de inovações que fazemos questão de introduzir a cada ano que passa, de forma a melhorar esta experiência única que o Festival MED.
Que pontos destaca para esta edição?
Em primeiro lugar, e como não poderia deixar de ser, destaco o cartaz musical de excelência que vamos ter. Dos grandes nomes da World Music que já foram distinguidos com vários prémios internacionais como os malianos Tinariwen ou a chilena Ana Tijoux, passando pelas 6 estreias absolutas em Portugal (Sonido Gallo Negro, Chico Correa, Blick Baassy, Mbongwana Star, Moh!Kouyaté e Danakil) aos artistas nacionais mais populares como o António Zambujo e fadista Aldina Duarte ou as grandes revelações, entre as quais destacaria Isaura, temos propostas que, no seu todo, compõem um dos melhores cartazes de sempre.
Depois gostaria de destacar também as inovações que vamos introduzir como a criação de um novo palco (Palco Jardim) dedicado à música e dança tradicional de vários países e que, acreditamos, será bastante apreciado pelos “puristas” da World Music. Pela primeira vez vamos ter Cinema e Poesia a coabitarem com as outras manifestações culturais que aqui têm lugar, desde as artes plásticas ao teatro, animação de rua, gastronomia e muito mais. Outro dos destaques que me parece pertinente referir é a associação à APORFEST para a realização do fórum de debate TalkMed.
Além da música e a componente World Music, o festival tem inúmeras outras áreas. É importante esse enriquecimento de programação?
Naturalmente que sim, até para alargar essa experiência de quem nos visita e não limitá-la à música. Aliás, mesmo no que diz respeito à música tentamos ser eclécticos pois a par da World Music que pode ser ouvida, vista e sentida nos palcos principais, temos também palcos que valorizam outras vertentes e formatos como a música clássica (MED Classic), o Fado (MED Fado), a música alternativa (Palco Bica) ou os concertos “one man show” (Palco Arco). Depois temos um programa que, como já referi, assenta numa fusão cultural e aí o público também tem a oportunidade de vivenciar situações únicas e surpreendentes, por exemplo com os “Concertos Improváveis” com que se irá deparar ao longo do recinto, através de exposições originais, da Poesia do Mundo que irá percorrer as ruas e ruelas do MED ou dos sabores que poderá apreciar na zona dedicada à gastronomia do mundo. Efetivamente todas estas vertentes culturais enriquecem o nosso Festival que, ao contrário de outros festivais de verão, é muito mais do que a música.
Qual o envolvimento local - público residente de Loulé, lojistas, parceiros - que hoje existe para e com o festival. Como foi isso trabalhado ao longo dos anos?
A realização do Festival MED só é possível graças a esse envolvimento. Ao longo dos anos, os louletanos perceberam que este evento é fundamental para a dinamização da cidade e, nesse sentido, há um apoio incondicional por parte da população. Se no início poderá ter havido alguma resistência dado os inconvenientes naturais de iniciativas desta natureza, seja em termos do ruído, do trânsito ou de alguma confusão normal, depressa os residentes perceberam a importância do MED. Relativamente aos comerciantes, também foram constatando que esta seria uma oportunidade de negócio já que são milhares de pessoas que estão na cidade, que mexe com a economia local, seja em termos das lojas do comércio local ou da restauração, de uma forma extraordinária, gerando muitas receitas. Foi esse sucesso que também tem atraído novos parceiros.
A aposta do festival é a internacionalização, correto? Como está a ser a divulgação do evento no exterior (diretamente e através do Turismo de Portugal) e que resultados isso traz no vosso reconhecimento e número de visitantes?
Desde as primeiras edições que o Festival MED ultrapassou as fronteiras do país e, nesse sentido, tem sido uma aposta a sua promoção internacional, que é feita diretamente pela organização, mas que conta também com o apoio do Turismo de Portugal, este ano mais do que nunca. Nesta edição, nesta área promocional, temos uma mais-valia que permitirá alargar o público que queremos alcançar. O Festival MED foi integrado na plataforma Portuguese Summer Festivals, criada pelo Turismo de Portugal, e da qual fazem parte apenas oito festivais de música do país, com o objetivo de promover este conjunto de festivais no estrangeiro. Somos o único festival organizado por uma Autarquia que está presente nesta plataforma, e estamos ao lado de festivais como o Rock in Rio, o NOS Alive ou o Super Bock Super Rock, o que muito nos orgulha e premeia o nosso trabalho. Esta plataforma permitirá não só termos acesso a um financiamento para este sector mas também estarmos incluídos numa promoção em grande escala.
Essa promoção passa sobretudo pela publicidade nos meios de Comunicação Social estrangeiros, meios esses que, de resto, fazem deslocar uma equipa a Loulé para fazer a cobertura do MED, como é o caso da americana FUEL TV (canal televisivo que tem ramificações em várias partes do mundo), os ingleses BBC3 e fRoots ou o espanhol Mondo Sonoro. Mantemos com esses meios de referência internacional uma parceria importante, até em termos institucionais.
Paralelamente temos os próprios meios promocionais do Festival como o site oficial, o Facebook, o Instagram e inclusivamente uma aplicação inovadora do MED. Numa altura em que as redes sociais são cada vez mais importantes, acreditamos que por aqui o MED chega a milhões de pessoas em todo o mundo.
Qual o papel que a APORFEST tem no desenvolvimento e capacitação do vosso festival?
A APORFEST é um parceiro estratégico e que será fundamental para potenciar ainda mais o Festival MED pois tem todo o know how necessário para podermos ir ainda mais além, seja em termos promocionais, no contacto com outros parceiros desta indústria dos festivais, no apoio e defesa dos nossos interesses ou até mesmo ao nível da formação de quem faz parte desta organização. Por isso, estou convicto que esta é uma parceria que dará muitos frutos. E o primeiro deles é precisamente o TalkMed que, numa vertente de reflexão, debate e troca de experiências sobre os festivais, irá lançar à discussão o tema “Cidade ao abrigo das músicas do mundo - Um festival, uma marca e o fabrico de um registo único”. A conferência acontece na sala polivalente da Alcaidaria do Castelo, no dia 30 de junho, e vai juntar à mesma mesa jornalistas conceituados na área da música, artistas portugueses e responsáveis da Autarquia, da APORFEST e do Turismo de Portugal.