Fotos: Vodafone Paredes de Coura; AltoMinho.tv, Hugo Lima, Arte Sonora
A indústria dos festivais de música em Portugal tem registado um crescimento substancial na última década, contribuindo significativamente para os vários setores económicos do país como o turismo, a restauração, entre outros. Para além disso, representam um papel crucial na promoção da cultura e também no aspeto social, na medida em que contribuem para o desenvolvimento das regiões onde ocorrem. Os festivais de música não são apenas eventos de entretenimento, são potências económicas.
De acordo com a Statista, o segmento de eventos musicais deverá atingir um volume de mercado de 80,12 milhões de dólares até 2027 em Portugal. Para além da receita direta da venda de bilhetes, alimentação, possível campismo ou merchandising, os festivais impulsionam outros setores, contribuindo significativamente para o PIB de cada país.
Com a entrada da Geração Z (ou Gen Z) no mercado de trabalho, agora com rendimentos, esta geração torna-se um alvo demográfico para este tipo de eventos.
Iremos analisar, neste artigo, a tese de Beatriz Mateus que explora as perceções e preferências da Geração Z em relação aos festivais de música em Portugal, ajudando a retirar uma lacuna na literatura sobre este assunto no nosso país e que se torna de importância para os seus promotores. Afinal se não sabemos quem é o público, as suas necessidades, preferências e opções, não conseguimos atualizar o setor.
Esta tese emprega uma abordagem de investigação multifacetada - uma revisão da literatura já existente de modo a contextualizar o estudo desenvolvido; a realização de entrevistas com especialistas do setor e festivaleiros para reunir insights qualitativos; investigação e análise conjunta com vista a avaliar quantitativamente as preferências da Geração Z e a importância entre os diversos atributos dos festivais.
Fotos: Rock in Rio Lisboa; concerty, pressnet
Este estudo analisou 5 dos festivais portugueses mais mediáticos e com presença de maior percentagem de público que corresponde à Gen Z: NOS Alive, Rock in Rio Lisboa, Super Bock Super Rock, Vodafone Paredes de Coura e MEO Sudoeste.
Através da análise conjunta, a investigação permitiu identificar os principais atributos que influenciam a participação nos festivais por parte da Gen Z:, o Line Up é o fator de preferência, seguido imediatamente do fator preço. Por outro lado, ao nível da sustentabilidade, embora valorizada como importante, há um diferencial entre a importância dada pelos festivaleiros e a disposição de pagar mais por práticas sustentáveis. Para esta análise foram considerados os fatores: Line up, Preço, Localização, Experiência, Facilitismo Digital, Experiência nas Redes Sociais, Sustentabilidade, Recinto e Alojamento.
O NOS Alive e o Rock in Rio Lisboa emergiram como líderes na perceção dos consumidores, particularmente na qualidade da sua produção, sensação de bem-estar, presença digital e preço.
O conceito de Experiência, que engloba a atmosfera, a música, as atividades envolventes e o ambiente social, é uma grande influência nas escolhas dos festivais, na ótica do consumidor Gen Z. Isto destaca a necessidade de os promotores criarem ambientes memoráveis e envolventes para os festivais, para além da programação musical e dos preços. Uma das descobertas da tese é a disparidade entre as opiniões dos especialistas e dos consumidores sobre a importância do preço. Embora os especialistas tendam a minimizar o preço como um fator, os dados do consumidor indicam que isso influencia significativamente as decisões de compra. Apesar dos padrões de consumo da Gen Z serem paradoxais (como vimos, por exemplo, na questão da Sustentabilidade), os festivaleiros continuam a dar preferência a festivais com maior impacto nesse âmbito bem como festivais que apresentem maior acessibilidade para pessoas de diferentes backgrounds.
Depois de analisar as descobertas desta investigação, podemos concluir que compreender as preferências e perceções da Geração Z é crucial para o contínuo sucesso e crescimento da indústria dos festivais de música em Portugal. O estudo de Beatriz Mateus fornece informações valiosas que podem ajudar os promotores a adaptar os seus eventos para atender às expectativas deste grupo demográfico, garantindo que os festivais de música continuem a ser uma parte significativa do cenário cultural e económico de Portugal. Este chama a atenção a aspetos como a relação qualidade/preço (neste caso, o preço relacionado como o Line Up), a preocupação com a sustentabilidade, o conceito de “economia de Experiência”, a criação de momentos memoráveis, a oferta de bem-estar dentro do recinto do festival, entre outros fatores determinados como importantes para este grupo demográfico.
Este artigo científico está disponível (para consulta), na sua versão completa, na área reservada dos associados APORFEST (de todas as modalidades).
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