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Festival Geada, o último festival do ano. Entrevista: Sérgio Vaz (director)

O Festival Geada, que decorre em Miranda do Douro, nos dias 27 e 28 de Dezembro, promete aquecer o ambiente com um conjunto de iniciativas que incluem música tradicional, danças dos pauliteiros e o contacto com a língua mirandesa. Este festival, último do ano de 2019, tem um mote que assenta na máxima "Bamos derretir l caraimbelo!", uma expressão mirandesa que se pode traduzir para português como "vamos derreter o gelo". Esta é uma das imagens de marca do festival que acontece nos últimos dias de cada ano e que junta algumas centenas de jovens num encontro tipicamente de inverno. Entrevistámos Sérgio Vaz, director do festival.


APORFEST: O que é o Festival Geada?

Sérgio Vaz: O Geada é um festival de inverno que, tal como é frequente nas terras de Miranda, se baseia nas tradicionais celebrações do solstício do Planalto Mirandês. Organizado pela Associação Recreativa da Juventude Mirandesa (ARJM), é muito mais do que um festival de música tradicional/folk, é uma actividade com o objectivo de mostrar aos nossos visitantes aquilo que o Concelho e a Cidade de Miranda do Douro têm para mostrar: a sua cultura e tradições, a sua língua, o seu património e a sua beleza natural. O Geada nasceu em 2008, através de uma parceria entre a ARJM e o Grupo de Pauliteiros da cidade de Miranda do Douro, por ocasião da celebração da festa de aniversário destes últimos. Inicialmente a intenção nunca foi a realização de um festival, mas sim a realização de uma pequena festa entre amigos. Porém com o passar dos dias, as ideias foram-se desenvolvendo e amadurecendo, até que surgiu a ideia da criação de um festival. Um festival capaz de demonstrar a todos os visitantes as tradições de inverno do planalto mirandês, a música, o folclore, a língua e a cultura mirandesa e de trazer a Miranda do Douro novas manifestações artísticas.


Como é feita a vossa programação artística?

Ao idealizar o programa de cada edição do Geada procuramos, acima de tudo, tentar diversificar e mostrar o que de melhor de faz em Portugal em termos de música tradicional e das suas fusões com sonoridades mais “modernas” por assim dizer. O primeiro dia do festival, que decorre nas ruas da zona histórica das cidades, em pequenas “tascas” ou “adegas” que abrem para o efeito, e onde os festivaleiros têm a oportunidade de degustar bebidas e petiscos tradicionais, não dispensamos a presença da tradicional trindade “Gaita-de-Fole – Caixa – Bombo” para animar as constantes arruadas e ajudar a “derreter o gelo” (derretir l carambelo em Mirandês), que é o lema do Festival. O 2º dia do festival inclui diversas actividades culturais (workshops, palestras, visitas a exposições e/ou passeio pedestres). No entanto, o ex-líbris deste dia são os concertos que decorrem na Tenda Geada, em pleno centro da cidade, no Largo do Castelo. E é neste âmbito específico que é fundamental para nós a diversificação: ora criamos um cartaz em que o foco está totalmente centrado na música tradicional propriamente dita (como foi o caso da edição de 2018, com Velha Gaiteira, Roncos do Diabo e Galandum Galundaina), ora procuramos trazer manifestações alternativas do espectro Folk/Músicas do Mundo (como é o caso da edição deste ano, com Gloom & the Crows, Enraizarte e Albaluna).


Por norma, e ao longo dos anos, fomos angariando contactos de vários grupos e bandas e, com o sucesso da edição de 2018 (depois de um período de menor fulgor do festival), recebemos também inúmeras propostas de grupos e bandas que, por sua iniciativa, foram enviadas e que demonstraram interesse em estar no Geada, o que para nós é sinal de bom trabalho.


De que forma divulgam os vosso festival e que tipos de público recebem?

Tendo em conta as nossas dificuldades em termos de orçamento, toda a nossa divulgação é feita através de meios gratuitos, principalmente as redes sociais e outras plataformas de divulgação de eventos. Claro que é feita também uma divulgação física através de cartazes e flyers, mas que acabam por ter um raio de acção e impacto limitados à nossa capacidade de deslocação. Com o apoio do município é também feita divulgação nos postos de turismo dos municípios pertencentes ao Distrito de Bragança e alguns Municípios raianos da vizinha Espanha. Em relação ao público, é para nós enorme motivo de satisfação verificar que temos uma abrangência que vai dos 8 aos 80. É para nós um prazer verificar que recebemos muito público jovem, mas também famílias inteiras com avós, pais e filhos. A programação acaba por ser transversal e agradar a todas as gerações. É fantástico ver regressar ao Geada aquelas pessoas que vinham há 7 ou 8 anos, mas desta fez já com família constituída, e outros que vinham ainda crianças e que regressam já como jovens adultos. É este um dos indicadores que consideramos importantíssimos quando afirmamos e reiteramos a sustentabilidade deste evento.


Onde pretendem chegar a curto-médio prazo, nos próximos 2-3 anos?

O nosso objectivo nunca passou nem passará por uma “massificação” do Geada. Não se pretende alterar o carácter familiar do festival e o ambiente que rodeia o mesmo! O que se pretende é que quem vem, sabe ao que vem, ou pelo menos quer experimentar, venha porque quer e sabe que o que vai encontrar é um lugar lindo, rico culturalmente, com pessoas que sabem receber, e com uma organização que se preocupa, acima de tudo, em criar uma programação o mais transversal possível e que garanta que quem vem se divirta, fique satisfeito e volte na edição seguinte. E tem funcionado, porque temos crescido de forma segura e, mais importante, sem que se belisque este sentimento de “ambiente familiar e acolhedor” que sempre caracterizou o Geada.


Quais as dificuldades na elaboração e preparação de um festival fora dos centros urbanos?

A nossa principal dificuldade prende-se com a distância aos centros decisórios e com o pouco interesse que a maior parte das entidades mais centralizadas demonstram em se envolver e apoiar este tipo de iniciativas nas regiões mais interiores. As pessoas conhecem e têm interesse pela região e pelo que aqui se faz de bom, e quando conhecem, vêm. Mas às vezes é difícil chegar a elas. Felizmente as redes sociais vieram ajudar-nos nesse sentido. Hoje em dia fala-se tanto em combater a desertificação do interior, mas a realidade é que quando se fala em apoiar iniciativas que ocorram nestas regiões, verificamos que é só teoria. Quem patrocina e quem tem a responsabilidade de apoiar, apoia se for em grandes centros. Aqui acabamos por nos sentir um pouco esquecidos pelas grandes empresas e pelas entidades públicas. Neste aspecto particular, tenho que fazer duas ressalvas: uma para a Câmara Municipal de Miranda do Douro que, dentro das suas possibilidades e restrições de carácter financeiro, nos tem tentado dar as melhores condições possíveis para o sucesso do Festival Geada! Nem tudo é perfeito, claro, e há sempre espaço para mais e melhor, mas sem a nossa autarquia não seria possível realizar este evento. A segunda ressalva é dirigida especificamente à Fundação INATEL, que tem feito um trabalho muito meritório no apoio a associações e actividades de âmbito social, cultural e desportivo, em zonas menos povoadas do país, de norte a sul e que, na edição de 2019 do Festival Geada, será também nosso parceiro, facto que muito nos orgulha e satisfaz.

Ao ser de entrada livre como adquirem a vossa sustentabilidade financeira?

A maioria das actividades do festival são gratuitas. No entanto, para acesso aos concertos na noite do 2º dia, é colocado um preço simbólico neste acesso, que serve apenas para nos ajudar a suportar as despesas que a organização acarreta. Por exemplo, no ano anterior a entrada implicava donativo mínimo de 3 euros. Na edição deste ano o donativo mínimo será de 5 euros com oferta de copo reutilizável e Clip Cup (sendo a redução da pegada ecológica uma preocupação, este ano não haverá copos de plástico descartáveis). Além disso para os associados da ARJM será de apenas 2 euros. Como dá para perceber, e tendo em conta a lotação da tenda (pouco mais de 1000 pessoas), o valor angariado acaba por ser muito pouco significativo. Desta forma, temos que recorrer a patrocínios de privados e, neste aspecto o comércio e tecido empresarial de Miranda do Douro tem sido um importante aliado e temos conseguido que estejam connosco, que entendam a importância do festival para a cidade, e que nos apoiem. “Batemos” a várias portas das empresas de implantação nacional, mas infelizmente, da parte destas, nem a educação de uma resposta negativa conseguimos, mais uma prova da pouca importância que eventos em zonas pouco populosas como a nossa têm para este tipo de empresas e entidades. Como dizia também na resposta à questão anterior, este ano contamos também com o apoio da Fundação INATEL que é importantíssimo para nós e, como sempre, com o apoio do Município de Miranda do Douro. Além disso temos tido a sorte de contar com a boa vontade dos grupos e bandas que têm feito os últimos cartazes do Festival Geada, que compreendem as nossas dificuldades e que, dentro das suas possibilidades, se adaptam às mesmas. Somos uma Associação e um Festival Cumpridores, temos sempre conseguido honrar os nossos compromissos com os grupos e fornecedores de serviços e orgulhamo-nos disso. No entanto, cada edição do Festival Geada é para nós uma “maratona de engenharia financeira”, mas tem sido aos poucos cada vez menos difícil e menos longo este caminho que nós pretendemos rumo à sua sustentabilidade.


De que forma a APORFEST e os seus eventos como o Talkfest e Iberian Festival Awards podem ser importantes para o vosso desenvolvimento?

O Festival Geada é organizado por uma associação cujos membros trabalham por amor à camisola. Apesar de conhecimentos que os elementos tenham em diversas áreas, acabamos por ser muito bem intencionados mas pouco eficientes. Acumulamos alguma experiência e conhecimentos, mas a realidade é que muitas vezes pecamos por desconhecimento e mesmo algum amadorismo. A APORFEST seria importantíssima para nós, desde logo pela capacidade de divulgação e promoção do Festival Geada, também através do Talkfest e dos IFA, com uma capacidade e alcance da qual estamos longe neste momento. Mas principalmente ao nível da oferta formativa e dos conhecimentos de que nos poderiam ajudar a obter, também ao nível do acesso a apoios e financiamentos, seria uma importante rampa de lançamento para aquele que é o nosso principal objectivo como organizadores do Festival Geada: a sua implantação definitiva no panorama nacional de festivais.


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